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Hiatus: A Memória da Violência Ditatorial na América Latina

Memorial da Resistência | Estação Pinacoteca,

São Paulo, SP. 

2017 – 2018 

Memória do esquecimento: As 434 Vítimas

No cenário atual em que graves violações aos direitos humanos cometidas em especial no período da Ditadura Militar (1964-1965) são relativizadas politicamente sob a ameaça de novos autoritarismos, a exposição Hiatus: A Memória da violência ditatorial na América Latina, uma parceria do Memorial da Resistencia/Estação Pinacoteca com o Goethe Institut e o Instituto de Estudos Avançados da USP, luta  hoje através da memória e da arte para que as ditaduras sejam somente hiatos, fissuras do passado – e não o contrário – em países verdadeiramente comprometidos com a democracia, na expressão de Jochen  Volz e Marilia Bonas.

 

A arte-memória, nas palavras de Seligmann-Silva,  é ato, ação que se dá no presente e articula às políticas do agora. Essas obras desses artistas da memória ”se dão no tempo do agora “Jetztzeit) de que Walter Benjamin falava e visam também escovar a escola a contrapelo”. Essa nova arte da memória elegeu lutar contra uma política do esquecimento que faz parte do modo intrínseco da tradição brasileira de apagamento da memoria da violência, em especial das violências de classe, racial e de gênero. 

 

A instalação Memória do Esquecimento é um tributo à memória dos mortos e desaparecidos no período ditatorial. Sua poética lança mão da transparência e sobreposição de imagens difusas, flutuando umas sobre as outras em que a forma está em potência, tal como a memória. Lança mão, também, de Códigos QR que remetem às páginas de cada vítima no Relatório da Comissão Nacional da Verdade – CNV.

 

“A obra da Fulvia Molina, Memória do esquecimento: As 434 Vítimas, destaca o caráter aterrador das práticas de tortura, de assassinato e desaparecimento da época. 

Essa obra faz uma homenagem aos mortos e desaparecidos pela ditadura. Ela reproduz as fotos e dados de nascimento/desaparecimento ou assassinato em seis painéis todos com um sistemade impressão das imagens em duas chapas de acrílico que, ao serem sobrepostas, dão ao visitante uma tridimensionalidade às imagens. Para o visitante ficava a impressão inquietante (unheimlich, em termos psicanalíticos) de que aqueles mortos estavam ali, diante de nós e nos olhando. Esse dispositivo mnemônico restituía “vida” àqueles que foram barbaramente mortos e “desaparecidos” pelas mãos do Estado. Nos painéis, o lado de cada uma das 434 imagens um código em QR remetia às páginas do relatório da CNV contendo dados da vida de cada um dos mortos e desaparecidos. Diante de cada um desses painéis seis cilindros semitransparentes reproduziam novamente essas fotografias. 

O elemento “totêmico” de homenagem aos mortos é evidente nesse trabalho de Molina. Na América Latina essas fotografias de desaparecidos assumiram um valor quase mítico e os artistas em todo continente se apropriam dessas imagens em suas obras-instalações. A fotografia como arte de inscrição do desaparecimento assume assim o papel fundamental nessa nova arte da memória da violência. Da repetição obsessiva das imagens (traumáticas) dos desaparecidos, Molina constrói aqui uma possibilidade de simbolização e de trabalho de luto: transformando a própria obra de arte em um ritual fúnebre e em paradoxal local de renascimento e sobrevivência.” 

Márcio Seligmann-Silva

Curador

Professor titular de Teoria Literária

Instituto de Estudos da Linguagem, IEL 

Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

"The work of Fulvia Molina, "Memory of forgetfulness: 434 Victims”, highlights the frightening nature of the torture, murder and disappearance of this time.

This work pays homage to the dead and missing during the dictatorship.

She reproduces photos and date of birth/ date gone missing or murdered in six panels all with a printing system of images on two acrylic plates which, when overlaid, give the visitor a three-dimensionality to the images. For the visitor there was the disturbing impression (unheimlich, in psychoanalytic terms) that the dead were there, standing before us and watching us. This mnemonic device restored "life" to those who were barbarically killed and “gone missing" by the State. In the panels, next to each one of the 434 images, there’s a QR code referring to their respective pages of the CNV report, containing data on the lives of each of the dead and missing. In front of each of these panels there are six semi-transparent cylinders reproducing the same photos.

The "totemic" element of homage to the dead is evident in this work by Molina. In Latin America these photographs of the missing have assumed an almost mythical value and artists across the continent have appropriated these images in their works-installations.

Photography as inscription of disappearance assumes the fundamental role in this new art of the memory of violence. From the obsessive repetition of the (traumatic) images of the missing, Molina builds here a symbolization and work of mourning possibility: transforming a work of art into a funeral ritual and a paradoxical place of rebirth and survival."

Márcio Seligmann-Silva

Curator 

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